OS PUBERDOSOS


De tão epidêmico, acho que já pode ser considerado um clássico: gays que passaram dos 30 e continuam se vestindo como se tivessem 16 anos, a bermudinha tactel estampada, meia de cano branco, uma camiseta espirituosa e boné. Em casos extremos, a aba do boné está virada para trás. E não é que ele se vista assim de vez em quando (na praia, por exemplo). Ele está assim sempre. Escaneando o seu armário, é só isso: uma overdose de roupas e acessórios que celebram a versão cybersurfwear do Peter Pan.

Historicamente, ocorreu uma inversão. Quem nunca viu o famoso quadro do espanhol Diego Velázquez, com a pequena princesa Margarita no centro da tela? Chama-se "As meninas" e é de 1656:


O quadro serve para ilustrar que as crianças do século XVII eram vestidas como miniaturas adultas. Os pimpolhos não tinham vontade própria e o discurso dominante do vestuário adulto ditava as regras.

Hoje, o taxímetro revela que o percurso do século XX não saiu de graça. Avançamos em muitas questões, mas a juventude tiranizou os padrões de comportamento de tal maneira que hoje não é nada difícil encontrar gatinhos trintões, quarentões, cinquentões, sessentões...

Um neologismo me vem à mente: PUBERDOSOS, ou seja, os idosos na puberdade. Puberdade eterna, diga-se de passagem.

Parece-me que o fenômeno é mais perceptível em mulheres heterossexuais e homens gays, por serem os dois grupos mais seduzidos pelos discursos (ditatoriais) de juventude. Discursos de uma juventude cada vez mais jovem, que espraia com uma frequência cada vez maior nas areias de uma infantilização perturbadora.

E o puberdoso não se restringe só ao vestuário não; é todo um estilo de vida. Em uma sala de bate-papo, por exemplo, ele está lá, marcando o território com gírias iradas, pontuando cada frase com brow, bróder, coé, blz, fala sério e seus congêneres. No Orkut, ele faz questão de atualizar seu álbum com fotos maneiríssimas da night. Ou do finde.

Fim de carreira.

Na hora do sexo, será que eles se comportam como gatinhos pornográficos da Bel-Ami?

Não sou a Regina Duarte, mas tenho medo. Muito medo.





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